DESENVOLVIMENTO DO ESTILO

A obra de João Antonio de Medeiros Neto

A busca da liberdade dos modernistas e precursores é a fonte inesgotável para sua criação, que permite a expansão da consciência, ampliando o universo das compreensões no vislumbre das possibilidades. Conquista-la é providencial, recurso fomentador dos sentimentos e da expressão humana, que forja o inimaginável.

A arte nutri-se de rupturas, das cinzas do existente.

1º ATO
A DESCOBERTA DO SIGNO


As concepções ideológicas na obra de Hierynimus Bosch desperta o jovem artista a enveredar por experimentações em que a realidade é transfigurada em associações simbólicas, instigando o apreciador da obra a desencadear argumentações dialética.
O campo semântico abre-se às criações metafóricas, provocando a inquietação do sentido, tendo
o absurdo como contra ponto a normalidade.


   Recuperação fotográfica do painel pintado nos corredores
do departamento de artes da UFRN de Natal, em 1986, intitulado "Sintonia", de
dimensão aproximada de 3m x 8m. Foi encoberto de tinta de parede 
a mando da chefe de departamento em exercício, iniciativa tomada a partir
de uma leitura pessoal superficial e de outras mulheres que sentiam-se 
incomodada com a obra. Atitude sem propósito, pois, o artista intencionava
fazer uma crítica aos meios de comunicação de massa o que seria
da arte se a cada leitura do espectador a respeito da obra fosse 
deliberado reações equivalente!

 Título: Pensando, ano 1987
Técnica: Óleo sobre tela
Segundo João Antonio, a certo momento de sua experiência, ele passou a perceber um confronto na forma que se processavam as informações na mente. O real tangível e o modo como o processamos nos nossos esquemas sensíveis apresentavam-se como dois mundos distintos. Notou que o real era transcodificado quando passava pelas células receptoras dos sentidos e levado, em forma de dados, para o cérebro. Então começava uma arrumação um pouco diferenciada nos meandros cerebrais. As ordenações dessas informações tinham uma estreita cumplicidade com nossa bio história e eram transfiguradas segundo as leis específicas do ser individual, o "estar" em mundo. Desse modo, a prosaica realidade se tornava multi facetada, refletia a diversidade de formas de ver dos indivíduos que realizava-se a partir do convívio desses muitos modos processuais, legado próprio da diversidade dos indivíduos. No entanto, para que ela  acontecesse necessitava de um convívio, um lugar comum, que dava-se mediante a socialização de um código que permitisse a interação, o que, ele chama de realidade. 
Como a obra de arte era uma extensão do seu sentir, em que predomina mais o esquemas processuais interiores,
tornava-se necessário ir sempre ajustando esse código para conseguir uma relação mais verdadeira em sua linguagem expressiva. 
Foi através das informações contidas nas obras  de Boch, Van Gogh e Picasso que conseguiu expandir, aproximar mais estes dois mundos.

Título: "desinstituição"
Técnica: óleo sobre tela
Dimensão: 1,20m x 1,46m
Esta obra é do mesmo ano da primeira exposição individual, "O que se vê?" no ano de 1988.



Uma das marcas da pintura de João Antonio, nesse período, é o  impacto, o incômodo causado pelas as associações de imagens, resultado de um mergulhar em questionamentos e  reflexões de ordem social e política.  



Título: "Venda"

Obra datada de 1988, exposta na exposição "O Que se Vê?".  Acervo do artista.



Título: "A Rima"
Óleo sobre tela

Título:
Estado de Graça
Óleo sobre tela
                                       



A obra de João Antonio convida o apreciador a adotar uma postura participativa: se completa diante o espectador, instigado pelo inusitado debruça-se face as incógnitas que ela propicia. As imagens  conjugam-se consorciando mensagens, apontando sinais, cerceando encaminhamentos de sentidos, para em fim estabelecer rumos a uma experiência sensorial significativa, permitindo acesso a um olhar diferenciado da realidade a respeito da condição do indivíduo em sociedade. Tudo isso é mediado pelas linhas curvas que sugerem a sensação de movimento da rede, reforçada pela curva da sanfona e do “átomo” com o núcleo de “semente de feijão”.





Em o "O Sussurro" o choque violento provocado pela imagem, sobressai. A desigualdade social, sangra, respingando no espectador. Dois lápis, um com bandeirinhas de países e outro com a tabuada, são espetados na região das costelas, como querendo acentuá-la, mostrar a dor incomensurável dos que estão as margens: as vítimas de uma sociedade injusta e quem contempla essa realidade e se acha incapaz de mudar.

 
A busca da expressividade é uma constante no trabalho de João Antonio. Isso está demonstrado, muito bem, na obra "O Retrato", 1996, quando a moldura do quadro entra como elemento representativo, sígnico, na composição, sustentando o plano retangular central com argolas de ferro. Nota-se, também, que recursos comumente utilizados na fase elaborativa do quadro, esquemas visuais, emergem tornando-se símbolos, na busca de encontrar o essencialmente enfático para se sentir, permitindo um componente dramático a obra. Tendência que marcará sua pintura até os dias atuais.
Nestas duas últimas obras fica evidente o uso proposital das curvas como estratégia compositiva, uma necessidade de  impermanência que permite mais liberdade a obra. Comporta-se como uma força motriz que impulsiona o desencadeamento das associações,  das conexões de relações simbólicas.  Através dela vencem-se os direcionamentos contraditórios como os que apresentam entre as retas e curvas, modelando-os, encontrando um estado que prevaleça um ponto de encontro, uma convivência, criando o diálogo entre os diferentes.

Na década de 90, o artista põe em prática o conhecimento ora adquirido, ensaiando novas conjecturas que indicarão possibilidades expressivas.

 
A Temática social continua intensa, agora valendo-se de recursos mais expressivos e contundente, capazes de cumprir seu apelo significativo: denunciar as injustiças sociais.


A sinuosidade das curvas margeiam sentidos e compreensões numa sintaxe iconográfica.






Dialogando com as inquietações contextuais, como um impulso aos desajustes humanos. 


Ao sintetizar ordenações mentais, a arte torna-se um instrumento de revelação do ser, de auto conhecimento, propriciando um caminho de descobertas.


No início do primeiro milênio, uma série de trabalhos apontam para novas orientações, de natureza existenciais. 


Agora, as respostas para os desajustes sociais encontram-se numa mudança interior.

O compartilhar, o "dividir somando" cria a noção da necessidade do outro, o organismo social.

 
 Os homens se fundem, semeando trabalho, vida, estendendo-se no realizar-se, pois não existe o indivíduo e sim a natureza humana. 

Nesta perspectiva opera-se uma nova síntese, caracterizando as experiências pictóricas da última década. 

  

A negação da unicidade,
 um campo maior de orientação significativa. 

O registro dos contornos inexatos e falhos das figuras e formas, não representam uma simples questão de formalidade estilística, ou um gesto ocasional, mas, sim, revela um fundamento que tem suas bases numa forma de pensamento alcançado pelo artista.  

A incompletude de contorno, permite o questionamento da unicidade do corpo da imagem, aponta para um olhar diferenciado desse princípio. Essa atitude amplia seu campo de compreensão, criando uma relação contextual com seu entorno. A expansão da imagem, portanto, passa a integrar a uma condição universal. Aplicando tal conceito, a atmosfera do entorno funde-se aos elementos centrais: o fundo, as imagens e personagens se intercambiam, vazando um nos outros, atrelados numa grande teia, num todo orgânico. Nesse sentido o ser, o indivíduo é parte de um todo.  

Uma nova ordem de compreensão surge: o sentido holístico. Atitude de cunho filosófico que foi assimilada e revelada ao longo da experiência pictórica. 

Acervo de Edi Galvão - Suiça


Acervo do artista


Acervo de Fabiano dos Santos - Brasília


 




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